Tamborzada

As batidas do coração inspiram homens e mulheres brasileiros a criar formas de imitá-las e desafiá-las em contratempos e emoção.
Por todo Brasil batemos tambores de muitos jeitos, vindos de culturas ancestrais e afinados com a diversidade de nossas histórias. Tambores temperados nos encontros de pessoas de vários lugares do mundo com os povos indígenas, donos originais da nossa terra. A Companhia Folclórica do Rio-UFRJ se encanta com tanta riqueza e, desde 1987, pesquisa expressões dançantes e musicais por todo país. Nessa trajetória realizou vários espetáculos, apresentados a milhares de pessoas de todas as idades, em inúmeros espaços no Brasil e no exterior. TAMBORZADA, nossa mais nova produção, espera iluminar a reflexão sobre a riqueza artística, social e política da cultura popular brasileira.
O Espetáculo
Reunindo 40 artistas, entre músicos, dançantes e artistas plásticos, TAMBORZADA mostra com quantos batuques se faz a cultura do Brasil. O público toma contato com diversos tambores: atabaques, alfaias, crivador, meião, tambor grande, caxambu, candongueiro e tambu, entre outros, e aprende sobre a riqueza da percussão, das danças brasileiras e o universo simbólico destas expressões.
A Companhia Folclórica do Rio-UFRJ traz à cena os tambores dos salões, dos terreiros e das ruas, que marcam as cadências das culturas populares. Cenografia, instalações, iluminação, figurinos, música ao vivo e muita dança, criam um momento de artes integradas com participação ativa do público.
TAMBORZADA se estrutura em pesquisas de campo realizadas pelos integrantes da Companhia Folclórica.
O roteiro revela o encontro da melodia com o ritmo, dentro dos salões, contando histórias da disputa dos malandros cariocas no verso e no batuque, eternizada nos sambas de Noel Rosa e Wilson Batista. A invenção do Maxixe, dança excomungada que juntou células européias e africanas, e segue para homenagear os tambores de los hermanos cubanos, dançando a Salsa de Cassino. Ao som de Camisa Amarela, de Ari Barroso, o carnaval de salão e de rua, se encontram, misturando canções e tambores para sempre.
Lá vem o português Zé Pereira trazendo alegria! Bonecos e batidas lusas ainda presentes em vários lugares do Brasil. Você sabia que os índios brasileiros também tocam tambores? A Festa da Moça Nova do povo Ticuna é contada pelo mascote da Companhia, o Bidito das Candongas. O Batuco de Cabo Verde reforça a raiz africana de nossas manifestações.
A montagem abre alas para a sensualidade e religiosidade do Tambor de Crioula maranhense ao som do tambor grande, meião e crivador originais, escavados a fogo. O Cacuriá, também do Maranhão, entra brincando de rebolar e de criar versos de duplo sentido. Simão, um mamulengo, se encanta com a abundância das mulheres e nos leva, através da Literatura de Cordel, à ludicidade do Baião e dos Cocos nordestinos.
Entre sapateios e palmas, tamborzada de corpo, chegamos lá no Recôncavo Baiano, no Samba que abre a roda para as cordas da viola, violão e cavaquinho se encontrarem com as umbigadas e ritmos da Bahia. E chega outro Samba, trazendo o pas de deux do Mestre Sala e da Porta Bandeira e a Bateria, poesias admiradas no mundo todo mostrando esse jeito carioca de brincar e se comunicar, nascido, dizem alguns, do Jongo que surge como nossa homenagem ao Morro da Serrinha da cidade maravilhosa.
Outros tambores centenários chegam à cena para dançar o Batuque de Umbigada paulista abrindo o terreiro para a Orquestra de Tambores que passeia na pluralidade das expressões das Caixeiras do Divino do Maranhão, das danças dos Orixás afro-brasileiros, das Folias de Reis, do Frevo pernambucano, das Bandas de Congo capixabas e das realezas dos Congados mineiros e Maracatus pernambucanos.
TAMBORZADA pretende desvelar a diversidade cultural deste comunicador dos tempos e subjetividades que junta ancestralidade e contemporaneidade, a devoção e a diversão, persistindo e resistindo acompanhando a humanidade em seus sonhos, lutas e artes, a entidade que conta histórias, o tambor.
TAMBORZADA, um musical da Companhia Folclórica do Rio-UFRJ, valoriza nosso povo que, sabiamente, transforma dor em arte, desesperança em dança e o coração aflito em batuque, em TAMBORZADA.